Análise de Estruturas: Avatar

18/12/2012 12:32

A Estrutura Narrativa (nada orginal) de Avatar

Por Gabriel Godinho Sampaio

 

            Não estou escrevendo para falar mal de AVATAR. Quero deixar isso claro!!!

           O filme me agrada em quase todos os aspectos. Ele é um filme bonito, traz uma mensagem positiva, tem humor, ação numa medida boa, personagens carismáticos e um cenário mais do que espetacular!!! Com certeza Avatar foi um investimento certeiro de James Cameron… E… se explorado de forma inteligente nas continuações (duas ou três já estão sendo concebidas!!!), vai render muitas histórias para os bons e velhos fãs de Ficção-Científica!

            Mas o que interessa a esta coluna é a ESTRUTURA NARRATIVA. Então vou enumerar pontos chave do roteiro para poder apontar, em seguida, onde já vimos uma estrutura idêntica e onde James Cameron acerta e onde ele só faz o “arroz com feijão” das narrativas…

De forma simples, o arco da história de Avatar se resume a:

  • O herói tem algum problema e vai ao mundo especial para tentar superá-lo (é assim que chamamos na Jornada do herói o local onde o herói vai procurar algo);
  • O herói se vê surpreendido por este mundo;
  • Ele conhece aliados e inimigos que trocam de posição conforme avança a história;
  • O herói recebe uma missão só para depois ver que “ele estava sendo usado para o mal”;
  • Ele troca de lado, e no processo descobre o que havia de errado consigo mesmo, conseguindo superar seu problema;
  •  Ele encontra a felicidade quando admite que o mundo especial onde está é o que ele sempre quis para o seu lar (o “Mundo comum” onde o herói vivia antes de ir ao mundo especial – é assim que Vogler denomina estes locais, em seu livro “A Jornada do Escritor”).

Agora, se você está tentando lembrar de onde você conhece esta História, ora, não faz muitos anos que nós assistimos um excelente filme com exatamente o mesmo arco. Estou falando de O último Samurai!!!

Se você não acredita em mim, pense no herói do Filme – Nathan Algreen (Tom Cruise) e leia o arco acima novamente. Verá que ele serve perfeitamente para contar a história de O Ultimo Samurai.

Não estou dizendo aqui que um filme é Cópia do outro!!! OS dois são filmes Diferentes, tem temas, motivações, dramas, ação e muita coisa diferente… Mas o arco de estrutura narrativa é idêntico!

Nas diferenças podemos apontar rapidamente:

  1. 1.        O tema – em Avatar, o que sinto é que o filme fala de SONHAR, já em O último Samurai, vejo claramente que o tema é HONRA.
  2. 2.      Motivações do herói. Em Avatar, Jake Sully quer sua vida (e suas pernas) de volta, em Samurai, Nathan quer esquecer do passado (se afogando em bebida ou morrendo em batalha).
  3. 3.       Os tons desses também são bem diferentes, enquanto Avatar tem um leve tom de deslumbramento e “ode à Natureza”, Samurai me passa um forte sentimento de crítica social e faz pensar sobre o que a modernidade faz com as nações, ao despi-las de seus valores tradicionais.

Mas quando falamos de Pontos em Comum… Aí surgem vários:

  1. 1.        Os dois heróis são amargurados;
  2. 2.      Os dois heróis estão envolvidos com os vilões e em vários momentos fazem coisas ruins, que poderiam até descaracteriza-los como “heróis”;
  3. 3.       Os dois acabam se apaixonando por alguém da “cultura diferente” em que estão inseridos.
  4. 4.      Os dois heróis querem “aprender sobre o inimigo”;
  5. 5.      Os dois acabam se sentindo envergonhados pelas coisas ruins que fizeram quando trabalhavam com o vilão;
  6. 6.      Os dois, ao viver a cultura do povo local, descobrem gostar mais dela do que da sua própria!!!
  7. 7.       Os dois encontram a felicidade no convívio com o povo do “Mundo Especial”.

Bem, esta foi apenas uma análise rasa das estruturas desses filmes. E como já disse lá no início, não quero desmerecer Avatar, pois isso seria uma grande hipocrisia – afinal eu já o assisti mais de 10 vezes!!!

Mas quando penso nas sensações que estes dois filmes me deixam, nos temas e na forma como esses temas são explorados nestas duas produções, eu prefiro filmes como O último Samurai, simplesmente pelo tom sóbrio e mais intimista das cenas.

Não vou mentir, ver o herói de Avatar, Jake Sully, voando seus Banshee ou reunindo os Clãs de Navii por todo Pandora, ou encarando o exército humano só com “arco e flecha”, é legal pra caramba!!! Mas nem se compara a seriedade e profundidade de cenas de O último Samurai, como os diálogos entre Nathan e Katsumoto ou ao confronto final do filme quando a espada do Samurai morto é entregue ao Imperador Meiji e ele a oferece sugestivamente para o Sr. Omura – o Vilão principal!

Confesso que não assisti outros filmes do diretor Edward Zwick, mas depois de escrever essa análise e lembrar com tanto gosto dessas cenas, acho que já sei quais serão os próximos filmes que vou baixar…

Gabriel G. Sampaio